Sexta-feira passada, dia 9, fez 14 anos que meu pai se foi.
Eu costumo não pensar muito nisso no dia, pois é uma data nada feliz para mim. Deixo para depois, e sempre me lembro das coisas boas que passei com ele.
Eu estou lendo o livro: Cachorros encrenqueiros se divertem mais, do John Grogan, autor de marley & eu. O livro é uma compilação de crônicas que ele escreveu no Inquirer e é bem interessante.
Ontem, na faculdade, meus alunos estavam fazendo prova e eu peguei o livro para ler. Me deparei com o artigo: "Quem é o pai? O sujeito que está presente".
Li como eu estava lendo os outros, mas algo nele me tocou. Vou reproduzir aqui alguns trechos que eu gostei bastante, e me fizeram lembrar de meu pai, que eu sinto muita saudade...
* O vínculo especial que se estabelece entre os pais e suas filhas é uma das alegrias menos comentadas. E vale a pena ser observada.
* Os pais tem várias formas e tamanhos e não seguem determinado molde. Os bons tem algumas coisas em comum, e no topo da lista está o fato de ser presente. Presente e responsável. Presente nos momentos importantes, mas também para comer hamburguer numa tarde chuvosa.
Pensando nisso, fiz uma lista das coisas que o meu pai dizia e fazia que eu adorava! Sinto falta dessas coisas.
1. Meu pai me chamava de "Cara de Pudim". Eu sempre pensei que era pelo fato de ter a cara amassada (olhando de lado, pareço uma bolacha Trakinas - rs). Era um apelido que ele geralmente usava quando queria brincar comigo. Quando eu ouvia: "Caaaara de pudim!!!" eu já começava a rir, pois estava a caminho uma cócega, uma piadinha ou até mesmo uma partida de vídeo game das mais disputadas. Era o MEU momento com o meu pai.
2. "Presa que nunca sai". Essa era uma brincadeira da infância. Geralmente eu estava no sofá, ao lado dele e, num momento súbito, ele me prendia e usava a célebre frase. É lógico que ele me soltava e continuava a falar a frase. Eu saía (achando que ele não tinha percebido) e ficava rindo na sua frente. Quando ele abria os olhos, fazia de conta que estava surpreso que eu havia escapado e, eu, me achava o máximo!
3. Avisar que ia cortar o cabelo. Bom, esse era D+! Ele vinha todo feliz, avisando que ia cortar o cabelo no dia seguinte. Eu me sentava no encosto do sofá e ficava horas penteando o meu pai: fazia xuxinhas, rabicós, repertia o cabelo, passava gel... hoje eu penso na paciência que ele tinha para me aguentar.
4. Me ajudar nos deveres. Essa eu sinto falta até hoje! toda vez que eu tinha uma pesquisa, tarefa ou lição para fazer, lá estava o meu pai, pronto para ajudar! Me indicava livros, me levava às bibliotecas e hemerotecas e, ainda, fazia as capas dos meus trabalhos! Me explicava como escrever as coisas, fazer resumos, retirar do texto o que era realmente importante. Agradeço ao meu pai eu ter conseguido terminar o mestrado pois, mesmo ele não estando presente, eu consegui me organizar com os textos e artigos graças a ele (ainda sigo a organização que ele me ensinou: fazer um índice com os nomes dos textos e os assuntos principais).
5. Tocar violão. Bom, quem conheceu o meu pai sabe que era um dos passatempos preferidos dele. Como era bom chegar da escola e ouvir o meu pai tocar durante umas 2 horas os mais variados rítmos e sons. Quando eu cheguei à adolescência e desenvolvi a minha preferência musical, ele dava um jeito de tirar a música, para cantarmos. Uma das últimas foi "Pais e filhos" - da Legião Urbana.
6. Laranjada. Toda a tarde meu pai tirava o seu cochilo. Era mais ou menos das 14h às 17h. Neste horário a gente tinha que evitar o barulho para não acordá-lo (os fones de ouvido foram grandes companheiros neste momento). E quando ele acordava, tomava uma jarra de suco de laranja, que ele carinhosamente chamava de laranjada. Todo dia uma de nós era a responsável por fazer o tal do suco (e Ai de quem não fizesse). Era um momento gostoso, pois ele acordava, tomava o seu suco e ia para o violão... parece que seu efeito era tal como o espinafre para o Popeye... rsrsrsrs
7. Bauru de manhã. Meu pai não tomava café da manhã (acho que herdei essa mania dele), mas às vezes ele acordava inspirado e preparava um bauru como só ele sabia fazer! Não tinha coisa melhor do que levantar, tomar banho e sentir o cheiro daquele sanduíche sendo preparado! Sentávamos no quartinho (nome carinhoso da sala de TV) e saboreávamos aquele lanche calórico em plena manhã! Como ele sabia que eu demorava para comer (pois ficava sentindo o gostinho dele na boca), geralmente ele me levava para a escola depois, de carro!
8. Risada. Meu pai tinha uma risada muito gostosa. Quando ele desatava a rir, a gente ria junto, de tão gostosa que era. Até hoje escuto o som da risadinha do meu pai: ri, ri, ri, ri, ri...
9. Bagunça. Meu pai era um bagunceiro de plantão (será que herdei isso dele também?) e adorava fazer experiências na garagem. Ele era uma espécie de Franjinha, só que crescido. Na garagem tinha de tudo: ferramentas, esculturas, telas, circuitos... qualquer coisa que precisássemos para usar, era só perguntar que ele falava: vai lá na garagem que tem! E como tinha coisa naquela garagem! rsrsrs
10. Vídeo game. Meu pai era um fã desses jogos. Sempre que lançava um, ele comprava para a gente. De vez em quando, quando estávamos jogando, ele vinha com a célebre frase: "Filha, deixa o pai ver o que está acontecendo no controle... acho que está com defeito." A gente passava o controle para ele ver e... já era! ele dominava o jogo e ficava rindo da gente. Era uma criança grande. E jogava bem pra chuchu!!!
Tem mais coisas que eu gostaria de falar sobre o meu pai, mas são tantas que este relato ficaria enorme (mais do que já está). Quando eu começo a falar do meu pai, não me falta assunto, lembrança ou comentário sobre ele. Vou tentar colocar mais coisas sobre ele aqui, afinal, ele merece.
Às vezes sonho com ele. Em momentos que eu preciso tomar uma decisão ou estou aflita.
E acordo em paz.